29/11/2011

Fôlego (2007)


  Apesar do enlevo e simplicidade, é compreensível quando alguém diz que esse filme parece não ter nexo, não ter aderência que dite significado ou talvez a atmosfera em cena seja tão extrema, tão rara, que dificilmente emocione por comungação, envolvendo a si próprio. E para sentir emoção é preciso entender, mesmo que seja inconsciente. Bom, me emocionei, mas tenho arrufo em expressar com palavras.

  Aliás, palavras parecem ter quase nenhum sentido aqui, a precisão das perspectivas, gestos, laconismos, já fala por si só e com muito mais esmero, mesmo deixando várias lacunas que a obra não faz a menor questão de explicar, seu entendimento está implícito e nós é que devemos desbravar. Tais lacunas referem-se a ausência de explicações sobre as origens e motivações das personagens, dando a entender que nós pegamos a trama já construída. Tudo isso só acrescenta em melhor ao filme, pois é sempre ótimo apreciar um trabalho distante dos protótipos. Exótico, uma obra que tem como plano de fundo o sentimento existêncial, mas parece ser tão desprovida disso porque falta familiaridade com o que é apresentado e a gente vai construindo aos poucos essa conexão. O ótimo de “Fôlego” é que o enredo parece ficar unido e flutuante em tempo idêntico, Yeon e Jang Jin demonstravam se conhecer há vários anos, todavia, a premissa mostra que eles nunca se viram (que é duvidoso). Yeon estava em crise e viveu uma extraordinária experiência na infância (que descreve o título da fita em seu tino literal e figurado), por alguma razão, perdeu o rumo e precisava reencontrar um sentido para sobreviver, durante um momento de “abrir de portas”, fez uma coligação emocional com o criminoso Jang Jin, cuja notícia passava em uma reportagem. Jang Jin, pelo visto, era bastante famoso pela malfeitoria cometida (tipo um Alexandre Nardoni aqui no Brasil) e o mistério de sua personalidade continua instigante até o final do filme. Agora o que fica perspícuo, de fato, é esse vazio existencial que ambos compartilhavam, usando um ao outro como último suspiro, último fôlego. Vazio esse que também é passado ao espectador pelos azos citados acima.

  A participação do diretor como personagem foi bastante emblemática e até, quem sabe, hierárquica. A figuração teve muito haver com a imagem de um cineasta, aquele que controla tudo, o chefão de seus desfechos. Enfim, um bom filme que ainda mantém a proposta simbólica de Kim Ki-duk. Ainda não recomendo com entusiasmo, talvez se rever, o fruto será mais gratificante para mim.

28/11/2011

Drive (2011)



Já começa o filme dentro do carro, um roubo, perseguição é a escapada perfeita do herói, que logo vai pra casa, nesse momento a cena ganha uma das marcas fortes desse filme que é trilha sonora. Quem gosta já fica preso ao filme naquele momento.


O filme tem história simples, mas contada de forma hipnotizadora... Seja pelo uso da não linearidade e slow motions em cenas de ação que não são maioria no filme, da escolha perfeita da trilha sonora, e não ser um filme o tempo todo de ação e correria como sugere o título.
O que poderia ser uma falha acabou combinando com a história, como o fato do personagem principal não ter nome, é um sujeito em busca de si... Mas que num momento vai explodir... Ryan Gosling interpreta de forma bem minimalista na maior parte do tempo, mas no momento que é pedido algo mais ele não decepciona.

Voltando as cenas, que cena fantástica a do elevador, como é bom ser surpreendido. E o final, quando ele observa o bar, a adrenalina foi a mil numa cena simples... Isso é a prova que um bom diretor faz diferença... Filmar é uma arte como esculpir...

Sangue, carros, dinheiro e um herói enjaquetado podem parecer que não tem nada de novo, mas com certeza a surpresa será grande quando você terminar de assistir a este filme. É melhor do que aparenta.

27/11/2011

The Coast Guard (2002)



  De uma quimera máscula, varonil, pela fátua e inocente ideia de honra influenciada pelos papos de exército, um soldado mais dedicado que os outros, camba em flagelo. A queda é irreversível.

  O filme mostra isso de uma maneira emocionante, com poucos talhos de culminância e trilha sonora belíssima, pela mesclagem de agrura, delgadeza, alvura e candidez. Sem esquecer do lado sórdido e violento. A fusão de tudo isso com a personagem principal e uma outra também afetada pela tragédia, é desoladora e capaz de ser envolvente por tratar de sentimentos comuns e bojos, que vão de um extremo à outro, como inocência e perca, amor e ódio, sonho e decadência. Deixando manifesto que o filme não se sente obrigado a tratar todos esses assuntos com abissalidade, mas contar uma história com força maior no sentimento de culpa, algo que a obra teve a sabedoria de causar um interessante embate entre o cumprimento do dever de um soldado, o cataclismo do povo local e a reflexão de todas essas consequências direcionadas à ele (o herói causador). A fita mostra ainda mais que não saber administrar esses assuntos, não ser diretor de si mesmo, tem negativações celsas para o ser humano, caso o mesmo caia em desgraça.

  Não considerei os civis propriamente vítimas, pois abusam e subestimam demais a força militar dessa península, por essa razão eles são os genuínos culpados, entretanto, o filme consegue provocar este dilema de interrogar as autoridades coreanas, como manter a vigia noturna contra os espiões (que ostensivelmente nem mais existem) e assassinar apenas para ser condecorado e licenciado, mesmo sabendo que são civis que invadiram a área; a partir daí a gente consegue ver um lado pusilânime e corrupto por parte da ordenança, dando margem à críticas, um bom equilíbrio entre ambos os lados. Seguindo uma rota simples e passando aos poucos à uma vereda cada vez mais complicada, causando até suspeita de um delírio coletivo surgido pelo trauma do acontecimento; nem vou me aventurar a resenhar essa parte porque viajei um pouco ou o filme deixa isso em aberto pela sofisticação do roteiro e direção. Ótimos empenhos também do ator Dong-Gun Jang e atriz Ji-a Park, os principais do longa.

  Entendido como o mais fraco filme de Kim Ki-duk por alguns, classificação que, de fato, não compreendi e não concordo nem um pouco. Achei ótimo, envolvente e com um final muito sensível, adregando que dá para fazer belos dramas com histórias de exército, embora a beleza aqui seja nada esperançosa.

O Ritual (2011)


O texto possui alguns spoilers leves, portanto se você é um daqueles que prefere que tudo seja uma surpresa, é hora de dar tchau!

De começo quero ressaltar que a idéia do filme não me agradou, eu quando fui assisti-lo já imaginava sim quais temas seriam abordados (não to falando isso só pelo título, "o ritual", até porque o nome original é 'the rite', que faria mais sentido sendo traduzido para 'o rito'.. enfim), mas com o passar do filme achei que eu pudesse me surpreender positivamente... Não aconteceu.

Um filme com algumas qualidades - bem poucas -, não é de todo ruim, mas totalmente esquecível, The Rite apresenta mais do mesmo. O filme foca na vida de Michael Kovak (Colin O'Donoghue), que desde cedo aprende os negócios da família (passados de geração à geração), mas o rapaz decide se desvirtualizar desse caminho que lhe foi escolhido, então escolhe fazer um curso preparatório para padres, sendo que ele é cético, e não não encontramos no filme uma explicação cabível para tal escolha, desde que não seja intervenção divina. Ele (o filme) tenta passar, pelo que eu entendi, a mensagem que todos os ateus não são benquistos por deus ou pelo céu e que em determinado momento da vida passam por uma prova de fé e enquanto não se converterem a sua vida não será 'feliz'... Ora, enquanto morava com seu pai, Michael cuidava dos corpos na funerária e até se converter ele perdeu o pai, sofreu pra vencer o demônio e etc..


É, o roteiro pra mim, é sofrível. Agora, não deixa de ter qualidades como, por exemplo, a magnífica fotografia (o que eu mais gostei no filme por sinal) e também a atuação de Anthony Hopkins (o exoscista 'nada convencional') que não está tão bem como já o vi em outros papéis, mas consegue dar o que se pede dele nesse filme, sim o filme tem bons momentos, poderiam ser mais, aliás, se mentisse o clima de suspense do início seria bem melhor, ahh, e de terror eu não vi nada (mulher se contorcendo pra mim não assusta).

PS: BASEADO EM FATOS REAIS? PFFF