02/12/2011

Sonho (2008)



  Um maravilhoso filme do início ao fim, a acuidade desse trabalho é bastante curiosa e agradável de acompanhar, entra-se em um céu nebuloso onírico que causa uma leve aflição em seu seguimento e também, conforto.

  Agora tentando explicar as raízes desses galanteios, “Sonho” é um tipo de filme interessante que ilustra a nossa ficção íntima, presente e em alguma dimensão, vero. Nos complementando no sentido de reconhecimento próximo em situações analógicas (até mesmo em condições de produção), sendo brevemente previsível e em tempo idêntico muito alheado dos clichês, aliás, termo esse que foi aplicado de maneira irresponsável, pois sua modelagem não é característica como a maioria. O previsível aqui (outra irresponsabilidade) não é sobre o desfecho em geral, no entanto, o antedizer ou imaginar caminhos de uma atmosfera sendo previamente criada, brincando com agrado à nossa perspectiva por tais convivências, a cadência é trabalhada com maestria por exibir o que foi citado, apresentar miudezas que aos poucos se tornam grandiosas, gerando vários níveis de glosas em possibilidades individuais. Mas todo esse amoroso passa a ficar cada vez mais sombrio, pungente; começa a penetrar em uma proporção nonsense e metafórica, nos deixando confusos entre crível e quimera, tudo isso sem frenesi pretensiosa, típica desses estilos de roteiros. “Bi-Mong” (no original coreano) é a artística junção de fantasia contemplativa e simplicidade, entretanto, ainda assim consegue confundir nosso entendimento em seu calmo desenrolar. A trilha sonora parece ser o próprio conceito ludibrioso dos sonhos, envolvente, hipnótica; nos prega curiosos até o seu término. Destaco o desempenho do ator Joe Odagiri fazendo a personagem Jin, não tenho certeza, mas li em alguns comentários que durante a fita ele falava japonês e o restante, coreano; não dá para estranhar porque tudo é feito com muita lidimidade e também acho o idioma coreano bem parecido com o do Japão, como não entendo o sotaque de nenhum dos dois, passei batido. Enfim, achei isso interessante. A atriz Ji-a Park também está ótima em um papel de delírio, mas não marca, talvez porque ela ficou muito no secundário e afigurava-se mais ao início de insanidade da Ran, feita pela Na-yeong Lee. Gostei igualmente da Ji-a em outros trabalhos do diretor, como “Fôlego” e mormente em “The Coast Guard”. Segundo as revelações, Na-yeong quase morre numa cena do final, o que deixou o autor muito deprimido, parece que isso é contado em “Arirang”.

  Quero relatar também que com “Sonho” termino de completar toda a filmografia de Kim Ki-duk (15 filmes), ele já lançou mais dois neste ano (Amen e Arirang), mas infelizmente ainda não está disponível para Download. Afirmo que foi uma experiência surreal e gratificante conhecer a obra dele. Todas as películas de Ki-duk abordam muito os sofrimentos humanos, extremistas, suicídos, as mulheres em situações desconcertantes, as metáforas e com beleza tocante. É um verdadeiro artista, especialista nos conflitos e compositor das cenas mais voluptuosas venéreas, não é nenhum Tinto Brass, mas também merece ser enfatizado nesse quesito. Ki-duk Kim é um de meus cinegrafistas joeirados e “Sonho” ocupa meu TOP 3 de sua filmografia.

Um comentário:

Alan disse...

Texto interesse. Gosto de observar a paixão dos fãs... Mas vou me esquivar rs.